O lobo do homem
Das planícies vi findar o dia que prometia eterno ser.
Posto réu, condenado fui a conviver com as brumas que flutuavam pela noite.
Aprendi a enxergar no escuro e encarar a face do abismo que um dia foi claro.
E é claro que, mais uma vez sobrevivi para contemplar o raiar da Aurora.
Um novo dia se fazia então.
–
Entronizado fui em uma alcatéia, como um estranho em meio a lobos.
E eu, logo o louco, réu de mim, me julgava o mais sábio daquele lugar.
Pudera! A minha loucura era olhar para o que de profundo havia,
como aquele abismo que outrora encarei.
Aprendi a ver intenções, corações e não metal.
–
A luz que emanava de pessoas simples era o farol a apontar felicidade.
Despretensiosos em ter, eram, e assim, tinham tudo o que os lobos não tinham.
Eram caçados, humilhados, mas viviam o que pregavam.
Tornaram-se então imortais e deixaram legados profundos e verdadeiros.
Desbotaram o brilho dos lobos, mergulhando-os no ostracismo abismal.
–
E eu que entronizado fui como estranho em uma alcatéia,
triunfante parti, renegando as memórias daquele dia que prometia ser eterno.
Ai de mim se eterno fosse aquele dia e eu vivesse para sempre como cego.
Eu me nego a não ver, juntei-me aos renegados, e este foi o meu alvorecer,
em um novo dia que se fez então!
(Allen Arruda – 09 de julho de 2019)